Revista Rua


O "progresso" e a significação da sociedade em alguns dos primeiros dicionários monolíngües brasileiros
The "progress" and the significance of society in some of the first monolingual Brazilians dictionaries

Rosimar Regina de Oliveira

A oposição observada acima evidencia um paradoxo, pois aponta, ao mesmo tempo, um movimento progressivo na paralisia que é a perda dos movimentos, progressiva. Os dois movimentos são graduais, porém, enquanto as acepções “que progride”; “que segue uma progressão”; “que se vai realizando gradualmente” indicam um sentido de acréscimo, de movimento, e, mesmo relacionado à permanência, à constância, como é o caso da matemática, aponta para o favorável; enquanto a marcação “(Med.) (V. Paralisia)” indica sentido de perda de movimentos, que leva à paralisação, apontando para o desfavorável.
É apresentado, então, o sentido de “paralisia”, a progressão de uma doença que provoca a perda dos movimentos. Ou seja, um movimento contrário ao que o progresso proporciona; um movimento progressivo que produz um retrocesso. Essas relações apontam um sentido negativo para progressivo, que não determina outros verbetes, desse modo, esse sentido se restringe a esta palavra e ao domínio específico da medicina. A inserção desta marcação, ao trazer para o verbete progressivo um sentido que aponta para a paralisação, produz mais um movimento polissêmico, pois os sentidos das acepções nas edições anteriores apontavam para a mudança, para o desenvolvimento e para a continuação.
O movimento de sentidos observado nesta edição reflete um presente para as cognatas de progresso em que se inscreve uma relação com a medicina, marcado pela paralisia e um passado evidenciado pelo memorável da política brasileira do século XIX, na relação com os ideais do Padre Feijó e do Partido Liberal. Nesta relação, esse conjunto de palavras (progresso e suas cognatas) nos mostra que se há um presente que determina o progresso há também um passado que afeta o seu sentido.
Em algumas edições desse dicionário os verbetes apresentam alterações. Elas sempre reforçam o sentido de progresso enquanto mudança, movimento, “adiantamento em sentido favorável” e mantêm a dupla direção da polissemia na relação com o sentido de “continuação” enquanto permanência e desenvolvimento. Esses sentidos favoráveis para progresso e suas cognatas são mantidos, no Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, por muito tempo,desde a primeira edição em 1939, vindo a aparecer um sentido negativo somente a partir de 1951, quando surge a marcação “(Med.) (V. Paralisia)” determinando o sentido de progressivo. A inclusão dessa marcação negativa para progressista não afeta o sentido positivo[1] que determina o progresso, desse modo, essa palavra eclode, na sociedade brasileira, com esse sentido de que o progresso é algo muito bom para a sociedade, sentido que permanece nas edições analisadas no Pequeno Dicionário


[16] Entendemos positivo no sentido de favorável, não no sentido positivista.