Revista Rua


O "progresso" e a significação da sociedade em alguns dos primeiros dicionários monolíngües brasileiros
The "progress" and the significance of society in some of the first monolingual Brazilians dictionaries

Rosimar Regina de Oliveira

No trecho a seguir, retirado do Jornal O Estado de Mato Grosso, de um texto publicado em 1940, e escrito porIldefonso Escobar (do Conselho Nacional de Geografia), pode ser observada a palavra progresso na relação com a “marcha para o Oeste”: “a marcha para o Oeste, terá a Inestimável vantagem de atender a uma necessidade política, econômica e social (...) será a propulsora de formidável progresso comum”. Pelas relações de determinação semântica aí postas, a “marcha para o Oeste” é determinada por progresso, sendo que há para o Brasil e para o continente sul-americano a possibilidade de um “formidável progresso comum”, mas somente a partir da realização da marcha para o Oeste que, pelas relações apresentadas no texto analisado, possibilitará a civilização dos selvagens e, somente assim, produzirá o progresso. Nessas relações, um dos maiores argumentos para a realização da marcha para o Oeste é o progresso.
 
A Semântica do Acontecimento
 
Para o desenvolvimento de nossas análises, mobilizamos a Semântica do Acontecimento, conforme proposta no Brasil por Guimarães. Nesta teoria, as palavras ou “expressões linguísticas significam no enunciado pela relação que têm com o acontecimento em que funcionam”, com o texto (GUIMARÃES, 2002, p. 5). Nessa medida, a enunciação se dá pelo funcionamento da língua, enquanto acontecimento de linguagem. Acontecimento que funciona porque o seu presente projeta em si mesmo um futuro e, por outro lado, tem um passado enquanto memorável, que o faz significar. É na enunciação enquanto acontecimento de linguagem que investigamos os sentidos da palavra progresso e de suas cognatas em alguns dicionários monolíngues brasileiros. Desse modo, tomamos o passado não enquanto lembrança (individual), mas enquanto rememoração de enunciações, e consideramos na constituição do acontecimento a sua temporalidade e ainda o real enquanto materialidade histórica.
Nesse sentido, consideramos o texto, tal como conceituado por Guimarães (2011, p. 9), como “uma unidade de significação” e caracterizando-o “não como composto por segmentos, mas como integrado por elementos linguísticos de diferentes níveis e que significam em virtude de integrarem esta unidade. O sentido dos enunciados é esta relação de integração” (ibidem, p. 22-23). Conforme esse autor, a relação de integração é constituída na enunciação, e, caso haja alguma distância entre os elementos linguísticos, ela será preenchida a partir de um falante/locutor que “se instalaria” entre os elementos linguísticos.