Revista Rua


Família, educação e vulnerabilidade social: uma análise da Região Metropolitana de Campinas.
family, education and social vulnerability: the case of the Metropolitan Region of Campinas

Sergio Stoco

Nas zonas mais vulneráveis a posse não significa, necessariamente, propriedade regularizada. No item “auto-construção”, na Tabela 2, podemos deduzir a importância que existe na solidariedade entre parentes, num item fundamental das condições de existência (construção da casa) para as famílias mais pobres.
 
Tabela 2: Situação de posse, forma de aquisição, regularização fundiária e construção dos domicílios, em números relativos, por zonas de vulnerabilidade, RMC, 2007.
 
 
ZV 1
ZV 2
ZV 3
ZV 4*
RMC
Construção e terreno próprio
61,9%
68,3%
66,9%
65,4%
65,8%
Adquiriu recursos próprios
76,4%
78,8%
76,6%
85,2%
78,4%
Bairro regularizado
51,9%
89,6%
96,4%
94,5%
89%
Auto-construção**
43,4%
41,9%
20,7%
0%
33,8%
Documentação regular***
27,8%
65%
83,8%
94,9%
70,5%
Fonte: Pesquisa domiciliar do Projeto Vulnerabilidade FAPESP/CNPq, NEPO/UNICAMP (2007).
* Corresponde a cerca de 40% do total da população da zona de vulnerabilidade 4 e apresenta rendimento médio abaixo da mediana da distribuição geral deste estrato.
** Foram considerados domicílios auto-construídos aqueles que o respondente participou do processo de construção, contando ou não com ajuda de familiares, amigos, vizinhos ou em processo de mutirão.
*** Como documentação regular considerou-se aqueles que declararam possuir escritura definitiva ou documento comprobatório de uso.
 
Estas características em conjunto com as variáveis: infra-estrutura física das residências, fornecimento de água, coleta de lixo, tratamento de esgoto, proximidade de áreas alagadiças e as condições do entorno do domicílio, disponíveis na base de dados da pesquisa, constituem importantes ativos distintivos de condição social. Mais do que isto, são condições que determinam a capacidade de gerar benefícios de outros ativos (renda, trabalho, escolaridade...), impossibilitando ou restringindo a probabilidade de que os diferentes capitais sejam acionados.
 
Capital humano
As classificações das variáveis que compõem a seção do capital humano consideram a relação entre as características pessoais (ciclo de vida, educação, saúde...) e a capacidade de conversão das mesmas características em benefícios materiais e simbólicos. Evidentemente estes limites (capital físico e humano) são sempre provisórios e dependem, essencialmente, da interação da pessoa que possui o atributo com sua legitimação, no meio social. O que vai além da escolaridade, tradicional indicador de capital humano, e possui um efeito relacional com outras características do indivíduo, onde dificilmente é possível isolar seu efeito (BECKER, 1993, p. 15 e 16).