Revista Rua


Aprendizagens da cidade: corporeidades em intervenções urbanas
Learning City: corporealities in urban interventions

Juliana Soares Bom-Tempo

Apresentamos, neste artigo, um processo investigativo das configurações do corpo cotidiano que ocupam e configuram espaços urbanos. As corporeidades sendo atravessadas por componentes da cidade: o trânsito em suas micro tensões, o ritmo de vida acelerado, as mídias (propagandas, panfletos, outdoors), as privações das relações nas ruas, a produção de “corpos dóceis” (FOUCAULT, 2008/1977). Assim, esta investigação busca pensar as configurações corpóreas atravessadas pelos fluxos da mega-máquina cidade na atual sociedade de controle, desenvolvendo o conceito de corpos urbanos. Ainda nesse processo, investigamos os potenciais de fabulação do corpo em processo educativo de questionamento e desterritorialização destes corpos urbanos, por meio da técnica de dança contemporânea contato-improvisação em intervenções urbanas realizadas no ano de 2006 na cidade de Uberlândia – MG pelo grupo independente Caleidoscorpos – CIA do Movimento Espontâneo. Essa lembrança possibilita-nos pensar a cidade, os corpos e os componentes do urbano, enfatizando as interfaces desse processo junto a conceitos que funcionam como ferramentas em relação a essa empreitada. Assim, memórias se atualizam ao colocar esta experiência em um novo movimento e servem como componentes maquinários desse pensamento.
Neste processo, a questão desta pesquisa é como são configurados os corpos urbanos atravessados pelos fluxos da cidade na atual sociedade e quais são os potenciais de aprendizagens do corpo através de intervenções estéticas na cidade por meio do Contato-Improvisação nas dimensões de possíveis rupturas nos corpos transeuntes e nos próprios corpos dançarinos. Diante desta mobilização, encontramo-nos com questões disparadas por um processo que força o pensamento por necessidade. Quais agenciamentos perpassam e territorializam os corpos transeuntes nos contextos urbanos?
Uma cidade funciona como uma megamáquina se autoproduzindo e reproduzindo permanentemente seus componentes articulares, compondo um sistema. Neste movimento, a cidade com os fluxos de transito, de consumo e das mídias se articulam aos corpos passantes, capturando-os e articulando-os nas composições urbanas. Estes componentes urbanos distribuem singularidades em componentes corpos engendrando máquinas, processos fundamentais para articulações das proliferações consumidoras homogeneizadas em uma estética urbana global, com ícones paisagísticos que atravessam os corpos e os transformam em cidade. Assim, essa megamáquina urbana busca componentes no exterior dela mesma.