Revista Rua


Aprendizagens da cidade: corporeidades em intervenções urbanas
Learning City: corporealities in urban interventions

Juliana Soares Bom-Tempo

de sua felicidade estar depositada na posse de um objeto, quanto ao abrir o corpo para estas misturas entre a cidade, o movimento, o corpo, o passante, em experiências urbanas são agenciada multiplicidades que se atualizam a todo tempo e são invadidas por potencialidades outras a cada conexão maquínica, movendo a cidade em fluxos complexos e caóticos.
A esse corpo invisível, Gil (2004) dá o nome de corpo espectral, uma variação do corpo virtual. É um corpo invisível, mas presente, que não diz do corpo físico, mas consegue tomar o seu lugar. Há um contágio inconsciente, que se conecta e age diretamente nos inconscientes dos corpos e da cidade. Esse corpo espectral não tem forma definida, o que ele possui é várias “quase-formas”, que têm os mesmos atributos dos “contornos de silêncio”, falados, anteriormente, irrepresentáveis e inperceptíveis à consciência clara, dobras das forças do lado de fora.
Acontece uma invasão do corpo espectral no outro corpo, já que, involuntariamente, esse outro está imerso em um campo do invisível, do inconsciente, e, portanto é submetido a uma comunicação inconsciente criando assim um movimento. Isso acontece quando há uma “distração” por parte desse outro e acaba por abrir o corpo. A esse processo de afetação e modulação de forças via inconsciente do corpo, Gil (2004) chama de incorporação. Portanto, o corpo espectral é um corpo de afetos, mudo e invisível, apenas podendo ser experienciado a partir das intensidades, que compõem o silêncio, no qual forças são moldadas pelos contornos de silêncio. Podemos aproximar essa concepção de corpo espectral com os pontos de singularidades do lado de fora definidos por Deleuze (2005), anteriormente nesse texto. Para que aconteça esse contágio e essa comunicação inconsciente é necessário que os corpos se abram e se permitam vivenciar o imprevisível e inesperado.
Ora, se existe a consciência intencional, a consciência do corpo e o corpo-consciência, como percebemos o mundo? O questionamento de Gil (2004) ressoa na minha reflexão.
O autor responde à questão dizendo que é uma percepção situada na fronteira entre exterior e interior do corpo, um campo fronteiriço, nos interstícios de sobreposição do interior e exterior do corpo. Essa zona de fronteira, a esse campo, Gil (2004) fala da pele, “como se víssemos o mundo a partir de cada ponto da nossa pele”, como se toda a extensão do corpo, sobreposta pela pele, visse, ouvisse, cheirasse, tocasse e compusesse um único órgão de percepção global e total. Corpo aberto às vibrações dos outros corpos.