Revista Rua


Aprendizagens da cidade: corporeidades em intervenções urbanas
Learning City: corporealities in urban interventions

Juliana Soares Bom-Tempo

Se considerarmos que a resistência tem primazia com relação aos diagramas, tateamos um ponto perigoso. Aí se encontra o risco. No decorrer da discussão deleuziana sobre a obra de Foucault,chegamos a um impasse:se é preciso chegar à vida, ao corpo e ao urbano como potência do lado de fora, o que nos diz que este “de fora”não é um vazio aterrorizante e que essa vida que parece resistir não é mera distribuição, novazio, de mortes “[...] parciais, progressivas e lentas” (DELEUZE, 2005, p. 102)? O risco do fora é evidente; mas como resolver o impasse formulado por Deleuze?
Haveria algo mais a se pensar, segundo ele, se o fora fosse arrebatado do vazio e desviado doaniquilamento, configurando uma superfície de atrito que sustentasse a produção do fora. Um terceiro eixo, distinto da força (Poder) e da forma (Saber). Um eixo queatue concomitante aos outros dois e que desfaça o enlace: um lado de dentro. Um lado dedentro do próprio fora.
A mobilidade, o ilimitável e a movimentação quecompõem o fora formam pregas e dobras que configuram um lado de dentro. O tema do duplosempre permeou a obra de Foucault, não como um exterior projetado, mas como umainvaginação do fora.
Deleuze (2005) fala, através de Foucault, da dobradura feita pelos gregos com relação à força que, relacionada consigo mesmo, inventaram o Sujeito, não como sendo a força, mas como uma derivação dela. Segundo o autor, “a idéia fundamental de Foucault é a de uma dimensão da subjetividade que deriva do poder e do saber, mas que não depende deles” (2005, p. 109).
Entretanto, essa descoberta de Foucault que possibilita a subjetivação não está isenta de capturas. A relação consigo mesmo é intimamente roubada quando posta, por exemplo, em contato com a sexualidade, as dimensões sociais, políticas e morais que a compõe no mundo do Capital Mundial Integrado. A subjetividade entrará nas relações tanto de Poder como de Saber, se reintegrando a estes sistemas, atados por códigos diagramados e morais.Esse desdobramento da dobra seria uma captura do macro-mercado capitalista frente a uma micro-usina de produção de subjetividade. Há uma fragmentação entre a produção e as superfícies de registro e consumo.