Revista Rua


Aprendizagens da cidade: corporeidades em intervenções urbanas
Learning City: corporealities in urban interventions

Juliana Soares Bom-Tempo

Guattari, nessa perspectiva, oferece uma proposta que nos é muito potente para pensar a cidade. Essa seria o conceito de maquínico como conexões e produções de proto-subjetividades enquanto potenciais de subjetivação disparados nas relações entre coisas, corpos e pessoas. Agenciamentos maquínicos, um além e aquém da máquina, interfaces em que as máquinas são articuladas com outras máquinas agenciando fluxos contínuos e ruptivos, sequenciais e desviantes. Máquinas que agenciam desejos, máquinas desejantes na relação com objetos-sujeitos de desejo. Estes constituem vetores de subjetivação parciais com aberturas para além do corpo, relacionados aos conjuntos sociais, cósmicos e os universos de referência de todo tipo. Estes objetos maquínicos agenciam-se complexamente e encarnam sistemas maquínicos, em que o caos permanentemente os dissocia, decompondo elementos de natureza diferentes e compondo dimensões da maior hipercomplexidade não dominada, mas em relações de insistência e repetição. Assim, pensando a cidade como uma megamáquina, como proposto pelo autor, os corpos, os trânsitos, as mídias, os fluxos urbanos se conectam e desconectam em agenciamentos maquínicos complexos em sistemas de hipercomplexidade aberto as misturas e aos riscos ruptivos do caos.
Tais atravessamentos acontecem simultaneamente em uma tendência à homogeneização universal e à heterogeneidade dos componentes. Não existe neste processo um julgamento negativo ou positivo com relação ao processamento maquínico, tudo vai depender das articulações e dos agenciamentos coletivos. Bakhtine (apud GUATTARI, 1992) afirma que o “consumidor” é também co-criador e, portanto certo fragmento de conteúdo torna-se pertencente ao outro, engendrando certa forma de enunciação estética, fundamental para o consumo. Estas articulações de fragmentos de conteúdos e corpos são agenciadas na e pela cidade.
Aqui se faz presente a dimensão política da produção de corporeidades urbanas, sendo que os corpos subjetivos são co-criadores e agenciadores do processo de produção maquínica das cidades. Assim, buscamospensar os temas urbanísticos de produção de um homem-maquínico, o homem subjetivado pela máquina. Nestas articulações, o desejo capitalístico encontra-se engendrado em micropolíticas urbanas. Velocidade, fluxo, anestesiamento corpóreo, processo de produção de um corpo massificado. Corpo-consumo, corpo-urbano, corpo-cidade.