Revista Rua


Aprendizagens da cidade: corporeidades em intervenções urbanas
Learning City: corporealities in urban interventions

Juliana Soares Bom-Tempo

Tais dimensões corpóreas passam a articular modos de produção capitalísticos, funcionando unicamente como registros, como valores de troca, valores da ordem do capital agenciando desejos. Modos que controlam subjetividades e subjetivações, em jogos de forças e poderes que visam à dominação e o controle da vida, um biopoder. (FOUCAULT, 1979). Certa essência do lucro que transcende a mais-valia econômica e está na tomada de poder da subjetividade. Cultura de massa presente nos agenciamentos urbanos, homogeneizantes e marcados por enquadramentos que tentam organizar e normatizar os espaços da cidade. Fundamental na “produção de subjetividades capitalísticas”, articuladoras desses contextos visíveis e invisíveis da cidade. (GUATTARI & ROLNIK, 2008, p.22).
Cultura massificada e producente de indivíduos normatizados, engatados uns aos outros em sistemas de valores hierárquicos. Desta forma, a cidade articula sistemas de submissão dissimulados em uma produção de subjetividades corpóreas inconscientes. A cidade: poderosa máquina capitalística. Cidade composta por agenciamentos individuais e coletivos que anestesiam corporeidades, a um nível capaz de desenvolver e proliferar além dos equilíbrios ordinários perceptíveis. Corpos\vidas dominados capitalisticamente assistem a passagem a uma ordem tecnocientífica-empresarial – propagandas, promoções, automotivos, cartões de crédito. Máquinas urbanas compondo órgãos extensivos ao corpo. Corpos saudáveis, jovens e produtor de prazeres em processamentos de controle-estimulação agenciados pela cidade em micropolíticas de controle, de saúde e de regimes de verdade (SANT’ANNA, 2001).
A cidade funciona, portanto é uma máquina. Seu funcionamento se dá através de comunicações expostas e sutis. Um jogo de dentro e fora do corpo. Contexto-sensitivo em que a mensagem é emitida – o corpo-cidade se configura no entre da mensagem. Receptores corpóreos conectados em mensagens emitidas pela megamáquina cidade. Segundo Guattari (1992), as cidades enquanto máquinas sociais funcionam como Equipamentos Coletivos operando no núcleo das subjetividades, consciente e inconscientemente. Assim, há um processo de concorrência entre os componentes heterogêneos para a produção de subjetividades e de corporeidades. São os componentes vinculados às instituições tais como família, religião, arte, educação, saúde. Além deste, há também os componentes fabricados pelas mídias urbanas e, além disto, os componentes sutis de informatizações a-significantes, que nos atravessam em comunicações inconscientes da megamáquina urbana. Neste contexto, há a invasão dos componentes complexos da cidade constituintes das subjetividades e que disparam processos de subjetivações urbanas. Para entrarmos no pensamento aqui proposto é necessário não haver a separação entre as subjetividades, os corpos e as coisas, todas estas dimensões tratadas como processamentos maquínicos que se conectam e desconectam produzindo fluxos.