Revista Rua


Aprendizagens da cidade: corporeidades em intervenções urbanas
Learning City: corporealities in urban interventions

Juliana Soares Bom-Tempo

interferindo como uma interrupção na cronologia e inaugura outro plano para a temporalidade, “tempo indefinido”. Introdução do fora no tempo. Lado de fora da temporalidade, como já discutido anteriormente. Frente às correrias, aos trânsitos, às mídias próprias de centros urbanísticos, propomos a possibilidade de outro tempo, tempo do acontecimento, da interrupção, tempo de busca de novos sentidos da cidade, de novas relações com o urbano. Lugar de aprendizagens.
Para falar em aprendizagens, reporto-me ao livro Proust e os signos, de Gilles Deleuze (1987). Utilizando Proust, o autor fala da aprendizagem enquanto um processo de relembrar, que tem a memória como meio, mas, paradoxalmente, está em um movimento de busca direcionado para o futuro. Aprender, nesta perspectiva é interpretar signos e emitir outros signos. Assim, os signos possuem ao mesmo tempo, unidade e pluralidade voltada a movimentos de busca. Deleuze diz que este processo de busca possui quatro mundos dos signos: os signos mundanos, os signos do amor, os signos sensíveis e os signos da arte.
O primeiro mundo da busca seria a mundanidade. Neste mundo, a tarefa do aprendiz é entender as dimensões históricas e de poder que constituem o signo. Compreender as leis implícitas dos signos mundanos. Estes signos substituem ações ou pensamentos; são, portanto, entendidos como representação do mundo. Aprender seria explodir o signo e analisar seus componentes. Os signos mundanos substituem as ações e os pensamentos, são vazios e fixos nas coisas do mundo; servem como estratégia de controle. Pertencem ao campo da forma/Saber pré-estabelecidos, exprimindo o efeito das pessoas que tem a força/Poder de produzi-los, diagramá-los.
O segundo seriam os signos amorosos. Estes signos estão em processos de busca de momentos, fatos e processos que o amado não participa ou não participou. Vivencia de processos excluídos do amado, partes desconhecidas de um mundo escondido, muitas vezes vivido por signos mentirosos, ligação presente entre amor e ciúmes. Os signos amorosos se originam dos mundos, pensamentos e ações desconhecidos do amado, que, assim, esconde o que exprime. As mentiras do amado são os ícones do amor; jogos de signos reveladores da mentira e signos ocultos da multiplicidade sexual e, portanto, este processo de desvendar mentiras promove sofrimento quando aprofundado.
O terceiro mundo é o das qualidades sensíveis; que seriam os signos em relação e funcionamento no âmbito da vivência. È o mundo que mais se aproxima do material e este sentido material é a encarnação produtiva de uma essência ideal, não platônica, mas criada a partir de um plano imanente, não se restringindo aos objetos materiais.