Revista Rua


Aprendizagens da cidade: corporeidades em intervenções urbanas
Learning City: corporealities in urban interventions

Juliana Soares Bom-Tempo

Frente a esta dimensão política dos agenciamentos maquínicos urbanos, durante o ano de 2006, produzimos um dispositivo político e estético nos contextos da cidade, produzindo trânsitos sobre a temática: Corpo e Cidade, a partir da criação do grupo de Dança Contemporânea e de Contato-Improvisação: Caleidoscorpos – CIA do Movimento Espontâneo. Esse grupo tinha como proposta desenvolver semanalmente improvisações em espaços públicos como praças, ruas e calçadas na cidade de Uberlândia – MG. Habitando um lado de fora da cidade, dos corpos, das danças e configurando uma dobra possível nos componentes da megamáquina cidade.
Assim, ao reportar à temática do corpo que foi construído sob perspectivas móveis como “Caleidoscorpos”, é preciso percorrer um caminho que configure conexões com certo lado de fora com relação aos novos corpos presentes nos fluxos urbanos, articulações dos pensamentos de Gilles Deleuze e Michael Foucault.
 
Configurações do corpo: do lado de fora
A dimensão dos novos corpos agenciados nos espaços urbanos criados no grupo é uma dimensão móvel, articular, uma mistura, um devir. Para falar de certo lado de fora necessário as novas configurações corpóreas e urbanas do grupo Caleidoscorpos, me encontro com Gilles Deleuze (2005) em seu livro Foucault. Nestelivro, Deleuze faz uma análise do conhecimento filosófico de Michael Foucault através do encontro com o pensamento deste, propondo uma certa improvisação de contato em uma relação de mistura e estética, um diálogo em que o pensamento de um agencia novas possibilidades e configurações no pensamento do outro, produzindo novos corpos teórico-conceituais, um movimento em que dois se transmutam em vários.
Deleuze (2005), através de concepções foucaultianas, leva-nos aolado de fora do pensamento.O autor convida a um contato com o pensamento de Foucault a partir de dois dos principais conceitos nodecorrer de praticamente toda sua obra: o de Poder e o de Saber. Assim, “[...] poder é uma relaçãode forças, ou melhor, toda relação de forças é uma ‘relação de poder’” (2005, p.78). O Poder, enquanto força, é do âmbito do flexível, mutável e inaugural. Já o Saber, enquanto forma, são “camadas sedimentares”, construções rígidas culturais e históricas; “[...] são feitos de coisas e de palavras, de ver e de falar, de visível e de dizível, de regiões de visibilidades e campos de legibilidade, de conteúdos e de expressões” (2005, p.57). Há, para Deleuze/Foucault uma diferenciação fundamental entre força/Poder e forma/Saber.