Revista Rua


Aprendizagens da cidade: corporeidades em intervenções urbanas
Learning City: corporealities in urban interventions

Juliana Soares Bom-Tempo

Portanto, o aprendizado não está nem no passado e nem na memória, mas é um busca em direção ao futuro. O importante nesta empreitada é o que não se sabe a princípio. Este processo não tem início nem fim. Aprende-se progressivamente, com revelações, decepções sofridas e ilusões perdidas. Entretanto, este é um processo não linear e que hora recua, sofre regressões e preguiça, processo frágil de abertura do aprendiz para se sensibilizar aos signos. Para a ativação deste processo é preciso que haja encontros. Tais encontros promovem desvios, violências que desafiam as crenças e as leis prontas. Acredita-se por crença ou lei que o mundo objetivo traz o signo fixo e sedentário, impossibilitando qualquer desvio. Confunde-se o significado do signo com o objeto que ele designa. Superficialidade e aprisionamento do signo, estagnação de aprendizagens. Diante disso, as aprendizagens agenciadas pelas Intervenções Urbanas promoveram polêmicas frente aos signos aprisionados e cotidianos do espaço urbano, agenciando processos maquínicos que colocaram a cidade e as corporeidades em devir, em movimento. Movimentos engendrados do lado de fora da cidade, produzindo dobras estéticas que possibilitaram as configurações de algo de novo na cidade, aprendizagens de signos por vir.
Assim, as intervenções urbanas com Contato-Improvisação possibilitaram a implantação do mundo dos signos da arte, aos signos mundanos, amorosos e sensíveis do cotidiano urbano, possibilidade de desvios em que corpos atravessados pela lógica da cidade entraram em processos de aprendizagem, violentados pela necessidade de encontrar signos para o que estava ali presente interferindo na rua, na praça, na calçada. Busca de um tempo perdido nos signos impositivos da rotina urbana da vida contemporânea. Possibilidades de redescobrir o tempo como linha de fuga de um cotidiano desprovido de poesia, de criação, de acontecimento.
Diante do que foi explanado neste texto, o que desenvolvemos nesta pesquisa, passou por pensar os corpos cotidianos que habitam o contexto da mega-máquina cidade e que se tornam articulações funcionais desta máquina, desenvolvendo o pensamento de corpos urbanos, máquinas-corpos-cidade. Assim, pensamos o processo educativo, ético, político e estético da desterritorialização destes corpos por meio da dança contemporânea Contato-Improvisação nas intervenções urbanas na cidade de Uberlândia - MG do grupo Caleidoscorpos, disparo de potenciais de fabulações dos corpos urbanos nas intervenções realizadas. Abertura de corpos dançarinos à cidade, incorporações de objetos urbanos acoplados aos corpos e a cidade em misturas que agenciaram outros processos maquínicos. Assim, possibilitar à cidade desviar, acontecimentos que polemizaram signos em busca de um tempo a ser redescoberto. Uma cidade por vir em corpos-consciência, agenciados por processos dos signos da arte, estabelecimento de contatos e misturas abertos aos campos dos imprevisíveis do urbano e dos corpos.