Revista Rua


Aprendizagens da cidade: corporeidades em intervenções urbanas
Learning City: corporealities in urban interventions

Juliana Soares Bom-Tempo

corpos em danças, brechas naquelas ruas, naquelas praças e naqueles fluxos urbanos, rompendo o campo da rotina. Mesmo com os corpos aparentemente distantes, fisicamente conseguíamos nos aproximar e estabelecíamos uma comunicação à distância, de forma que nos tornávamos próximos, introduzindo no espaço físico da cidade que ocupávamos outro espaço e outro tempo, criando um ritmo novo o qual surpreendia os transeuntes e também nós dançarinos, mas que só nos dávamos conta, quando parávamos de dançar. Desta forma, adentrávamos em outro espaço-tempo, que já estava ali engendrado em tensões micropolíticas que habitam invisivelmente a cidade, mas em todo momento é ocultada pelas regras que delimitam o campo do quotidiano e da rotina.
Dessa maneira, foi construída uma relação de afetos na dança de Contato-Improvisação. Essas relações foram atravessadas por fortíssimas intensidades afetivas, possibilitando um contagio de inconscientes. Esse contágio foi possibilitado pelas pequenas percepções, que são inconscientes e, praticamente, insensíveis, já que se situam aquém dos limites da consciência clara, porém afetam todos através das forças de que são compostas. Além disso, há um desnível que adentramos para tornar contínuo algo que na macropercepção é lacunar. Algo do nível do não representável, mas do sensível captado nas intensidades e micropercepções.
Gil (2004) chama esse intervalo de “contorno do silêncio”, pois não há uma figura definida, já que se trata do nível das forças e não das formas, é algo que habitam o por vir, a transformação; como uma flor que desabrocha por instantes e se desfaz no instante seguinte; como areia ou como as ondas do mar. Se faz uma comunicação inconsciente e aparentemente silenciosa e configura-se o contato improvisando em uma coreografia sem ensaios, que se dá ali, no momento presente. Nada se vê nada se ouve, “sente-se” qualquer coisa indeterminada, ilocalizável, que se confunde com o sentido do corpo da e na cidade.
Outro aspecto que possibilita a existência do corpo-consciência é o que Gil chama de “cartografias das intensidades do corpo” (Gil, 2004, p. 21). Essas cartografias dizem da possibilidade de um único corpo se tornar dois ou mais corpos ao mesmo tempo. Corpo agenciado por encontros intensivos que solicitam o corpo à mistura e a experiência limite das múltiplas possibilidades. “O corpo do outro é solicitado por uma espécie de presença espectral do corpo do sedutor, presença densa, que acorda o desejo do outro, que procura intensificá-lo e captá-lo” (idem). Assim, tanto cotidianamente ao passar por uma vitrine e ser sugada pelas intensidades de captura mercadológica a ponto