Revista Rua


Aprendizagens da cidade: corporeidades em intervenções urbanas
Learning City: corporealities in urban interventions

Juliana Soares Bom-Tempo

Greiner (2005) se refere aos conceitos do pesquisador francês Guillemette Bolens para falar da diferenciação conceitual de duas importantes concepções sobre o corpo: o corpo envelope e o corpo articular. O primeiro, assim como um envelope, se organiza considerando o que há no interior, como sendo separado daquilo que compõe o exterior, tendo orifícios em pontos nodais. Já o outro, tem como lógica de organização as relações articulares. Essas concepções corporais denotam relações em vários âmbitos da cultura e têm conseqüências fundamentais nas relações com o corpo, não só no corpo do artista, mas no corpo em trânsito.
Ainda nesse texto, existem vários diálogos com importantes pensadores, que certamente contribuem para a composição cartográfica da temática discutida sobre o corpo e a cidade. Um deles é Michael Bernard com a substituição da discussão do corpo pela discussão de suas corporeidades. Neste contexto, se coloca a noção anatômica do corpo fundida às suas ações. Há, portanto, uma subversão categórica do corpo, não deixando de ser capturado pela nomenclatura, mas agora sob outro estatuto, considerando as diversas possibilidades de um corpo vivo, que vive e se relaciona no mundo. Além disso, Tetsurô Watsuji, filósofo japonês que estuda o corpo, contribui trazendo a importância do “entre” das localidades corporais. Este “entre” são redes de relações que significam socialmente o homem, convidando a uma atenção especial a organização destas relações humanas, em uma dinâmica relacional co-extensiva entre natureza e cultura e não uma concepção dual. Assim, a cidade passa a ser pensada como agenciador de corporeidades, nas relações do “entre” dos contextos urbanos, interfaces de corpos, trânsitos, mídias, movimentos corpóreos, relações de privatizações das relações urbanas.
Um marco fundamental da passagem do século XIX para o XX foi propiciado pelo arcabouço filosófico sobre o corpo de Nietzsche e Antonin Artaud (apud GREINER, 2005). Estes inauguram um pensamento que diz do “avesso da representação”. Além disso, outro pensador trazido ao diálogo por Greiner é Derrida ao propor diversas conexões de sentido sobre o pensamento de Nietzsche e Artaud, chegando a propor um novo corpo, “[...] anarquista, não orgânico, acefálico e vital” (GREINER, 2005, p. 24). Uma proposta de um corpo que se encontra nas fissuras, nas brechas que se conecta com o lado de fora, produtivo e inventivo, e não mais um corpo organizado e generalizável(enquanto forma). Nasciam novas concepções de corpo com a de corpo sem órgãos proposto por Artaud. Havia uma rejeição de Nietzsche e Artaud de qualquer poder centralizador como as concepções de sujeito e Deus. Há em Nietzsche e Artaud uma diferença epistemológica fundamental na concepção de corpo como a proposta por Descartes; aqueles defendem a idéia de que o corpo sem órgãos seria uma resistência aos