Revista Rua


Aprendizagens da cidade: corporeidades em intervenções urbanas
Learning City: corporealities in urban interventions

Juliana Soares Bom-Tempo

As instituições(corpo, estado, família, escola, manicômio, hospital, cidade) concentram relações de Saber enquanto instâncias instituídas, entendendo-as como pertencentes ao âmbito da forma. Já as forças são de outra natureza com relação à forma, são dainstância da não-formalização. Uma colocação importante da referida definição é que otermo forças está apresentado no plural, ou seja, toda força faz alusão a outras, “[...] toda força érelação, isto é poder: a força não tem objeto nem sujeito a não ser a força” (2005, p.78). A questão aqui não é “O que é Poder?”, mas como ele se pratica e processa. Através do afeto, aforça tem o poder de afetar e de ser afetada por outras forças. Ou seja, enquanto a forma/Saber é normatizada, instituída e pouco dinâmica, a força\Poder é a relação, a mistura, o encontro. Entretanto, é fundamental entendermos que essas dimensões existem associadas e sobrepostas.
Foucault (apud DELEUZE, 2005) nos traz um conceito importante para compreender as relações entre Poder e Saber nesta empreitada: o de diagrama. Este seria a aparição das relações de forças quesustentam a forma; ou seja, seria a composição dos Poderes que afetam e são afetados no território dos Saberes. Assim,é possível compreender uma definição de diagrama como sendo “[...] uma emissão, umadistribuição de singularidades” (2005, p.78), organizações imprevisíveis e conexões inéditas do campo dos Poderes que, por sua vez dão sustentação aos Saberes.
O diagrama movimenta matérias e funções não-categorizadas e se exerce sobsegmentos móveis e flexíveis, não passando por formas, mas por pontos de uma rede complexa de subjetividades, singularidades comafetamentos locais e imprevisíveis. Desta forma, Foucault diz que a prática do Poder éirredutível à do Saber, pois existem sob domínios diferentes. Para acentuar tal desnível,Foucault afirma que o Poder faz referência a uma “microfísica”, para dizer que é de outrocampo em relação ao Saber, aquele faz parte de um tipo de relação inédita, com conexões móveis, voláteis e não localizáveis. O Poder para Foucault é fluído, flexível, intangível, enquanto que o Saber é mais estável, rígido, visível.
Entretanto, Poder e Saber vivem em possibilidade de “[...] captura recíproca,imanência mútua” (2005, p.82); ou seja, não há separação das matérias e funçõesformais com as relações de Poder que as tornam possíveis, mas configuram uma texturaontológica introduzindo as possibilidades de produções inéditas mesmo nos campos formais mais estáveis. Nesse sentido, os estratos macrofísicos e macropolíticos dos Saberes estão intrinsecamente atravessados por uma microfísica dos Poderes, trazendo a possibilidade enquanto potência de transformação dos traçados rígidos das