Revista Rua


Aprendizagens da cidade: corporeidades em intervenções urbanas
Learning City: corporealities in urban interventions

Juliana Soares Bom-Tempo

Para melhor pensarmos esses mecanismos de dobra-invenção e capturas, recorro ao livro de Deleuze & Guattari (1966) O Anti-Édipo, no capitulo inicial “As máquinas desejantes”. Estes autores trazem uma noção de três esferas que se concatenam e se conectam nas relações homem-natureza, indústria-natureza, sociedade-natureza: superfícies de produção, de registro ou distribuição e de consumo. Estas camadas estão diretamente relacionadas e, portanto, não existem estratos ou circuitos independentes. Sendo assim, a produção se torna, no mesmo momento que é produzida, consumo e registro, que, por sua vez, determinam a produção, de forma que para os autores tudo é produção.
Neste ínterim, é preciso engendrar as superfícies de registro e consumo na própria produção, e torná-los um mesmo processo. Quando isso não se efetiva nas produções de subjetividades, elas são tragadas pela macroestrutura do capital, como um aspirador, se tornando mercadorias de consumo. Pensando nos agenciamentos urbanos, mesmo em dimensões criativas e singulares que são agenciadas na cidade, produzindo cidades criativas, essas estão vulneráveis aos processos de capturas, correndo o risco de, mesmo engendradas pelo fora e criando dobras que produzem efetivações, há pelo regime de verdade do controle instituído nos atuais contextos urbanos, processos violentos de capturas que normatizam, estratificam e endurecem as segmentações urbanísticas.
Entretanto, para Foucault (apud DELEUZE, 2005), sempre haverá uma relação de subjetivação que resiste aos Poderes e aos Saberes, que é inclusive a gênese dos pontos de resistências. São as linhas de fuga.A subjetivação, a relação consigo, não deixa de se fazer, mas se metamorfoseando, mudando de modo, a ponto do modo grego de produção de sujeitos tornar-se uma lembrança bem longínqua. Recuperada pelas relações de Poder, pelas relações de Saber, a relação consigo nãopara de renascer, em outros lugares e em outras formas, criando um lado de dentro, cheio de possibilidades e dobras.
 
Corpos Urbanos: agenciamentos de componentes da cidade.
Christine Greiner (2005) no livro O Corpo: pistas para estudos indisciplinares aborda vários temas sobre o corpo compondo uma obra concisa, oferecendo pistas para os que almejam estudar tal assunto. Utilizando as teorias do corpo, montaremos um desenho, aberto e fluido, para propiciar uma superfície de atrito a presente discussão sobre os agenciamentos entre corpos e cidades.