Revista Rua


Aprendizagens da cidade: corporeidades em intervenções urbanas
Learning City: corporealities in urban interventions

Juliana Soares Bom-Tempo

Intervenções urbanos: acontecimentos e processos de aprendizagens
As intervenções urbanas experienciadas por meio do Contato-Improvisação é pensada neste trabalho enquanto acontecimento. Deleuze (2007) em seu livro Lógica do Sentido engendra o acontecimento como sendo o próprio sentido, diz do acontecimento enquanto a encarnação em certo estado de coisas, no tempo efetivamente presente. Assim, a criação e as intervenções executadas pelo grupo experimentaram em oficinas o Contato-Improvisação e na realização das intervenções urbanas, a conexão com os componentes da cidade, elementos urbanos, e a partir de tais atravessamentos, produziu movimentos espontâneos conectados ao momento presente, incorporações de sons, fluxos, linguagens e signos que ressoavam nas corporeidades do grupo, abertas aos sentidos e ao movimento do mundo urbano enquanto acontecimento.
Zourabichivili (2004) pensa o conceito de acontecimento de Deleuze como sendo paradoxalmente uma relação entre linguagem e mundo. Acontecimento é inseparável dos sentidos e dos signos e do movimento de mudança do mundo; ou seja, o devir do mundo. Em consonância, a produção do pensamento é realizada da mesma forma que se produz uma experimentação, já que, para tais pensadores, “não existe dado senão em devir” (ZOURABICHIVILI, 2004, p.18). Desta forma, não existe experiência pré-estabelecida que não conte com imprevistos, imprevistos estes que ocorrem cotidianamente nos contextos da cidade, mas que muitas vezes estão imperceptíveis aos transeuntes pelo próprio ritmo e fluxo da vida contemporânea. A promoção de intervenções nestes fluxos possibilitou a experiência de corpos urbanos anestesiados pela lógica mercadológica da cidade; diante disso, possibilitou desvios e agenciou aprendizagens, disparadas por certo estranhamento ou busca de sentidos que não existem a priori, já que as intervenções estavam fora das regras rotineiras e frenéticas dos fluxos urbanos.
Nesta perspectiva, o acontecimento, além de se configurar como diferença das coisas do mundo, tanto em processos de sentido quanto de mudança e movimento, afeta as subjetividades e as coloca em processo de devir, “insere a diferença no próprio sujeito” (idem, p.25). Assim, aquilo que fazia sentido até aquele momento, não mais o faz, tornando-se indiferente, e o que nos sensibiliza neste momento e nos afeta, não tinha sentido antes. Este efeito do acontecimento nos diz que ele não ocupa espaço no tempo,